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Às onze horas, todos recolheram aos seus aposentos respectivos e daí a meia hora as luzes estavam apagadas por completo. Passou-se algum tempo, e o Sr. Otis foi acordado por um ruído estranho no corredor; dir-se-ia o barulho de objectos metálicos que parecia que se aproximava cada vez mais. Levantou-se logo, riscou um fósforo e consultou o relógio. Era precisamente uma hora da madrugada. Otis sentia-se bastante tranquilo: tomou o pulso e verificou que não estava febril. O tal ruído esquisito, no entanto, continuava; ao mesmo tempo ouvia-se um rumor de passos. O americano enfiou as chinelas, tirou de um estojo um frasco de forma oblonga e abriu a porta. Mesmo diante dele, na claridade desmaiada do luar, estava um velho de aspecto aterrador; os olhos do desconhecido ardiam como carvões, o cabelo comprido e grisalho caía-lhe sobre os ombros, o fato, no estilo de outros tempos, mostrava-se sujo e dilacerado; dos punhos e dos tornozelos suspendiam-se pesadas grilhetas e correntes.
- Meu caro senhor - começou o diplomata -, desculpe aconselhá-lo a pôr um pouco de óleo nessas correntes; para isso, aqui tem uma garrafinha do célebre Lubrificador Sol. É considerado muito eficaz em todas as suas aplicações, como pode ler no respectivo rótulo. Deixo-lho em cima desta mesa; se precisar mais é só pedir. - Dizendo estas palavras, o respeitável americano colocou o frasco no mármore da mesa e, fechando a porta do quarto, dirigiu-se de novo para a cama.
Por instantes, o fantasma de Canterville ficou tão indignado que não fez um único movimento.
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O Fantasma de Canterville de Oscar Wilde
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